Ondas de calor, desastre climático
As
políticas de saúde pública no Brasil são pouco discutidas entre os
administradores públicos e a sociedade, e sua implementação não tem sido pauta nas
casas de leis, mirins, estaduais, câmara baixa ou câmara alta. É sim, prevista nas
constituições dessas casas, mas existe um hiato gigantesco entre os
profissionais de saúde e representantes políticos para unificar os interesses
do povo brasileiro nessa seara.
Particularmente,
me preocupa a atual onda de calor experimentada no Brasil, até porque será
debitada ao clima os eventos adversos de temperatura, quando na realidade a
saúde do cidadão será severamente afetada. A observar eventos dessa natureza,
presentes em tempos pretéritos, em outras regiões do globo foram tratadas como
problema de saúde pública, entretanto, após quatro meses de intensa ocorrência
do El Niño, em um país com tamanha diversidade ambiental, não vejo
manifestações de nossas autoridades sanitárias.
Estaria
eu tão descolado da realidade político-sanitária de meu Brasil?
Temperaturas
Extremas
Vale da Morte, EUA - deserto californiano
57,8 ºC |
Temperaturas máximas médias máximas acima
de 41ºC |
Turfan, China |
Temperaturas acima de 50ºC |
Tirat Tsvi, Israel |
Cidade mais quente da Ásia, alcançou
temperaturas acima de 53,9ºC |
Timbuktu, Mali |
Cidade alcançou 54,4º |
Wadi Halfa, Sudão |
Cidade fronteira do Sudão com Egito, alcançou
54,4ºC |
Kebili, Tunísia |
Já registrou 55ºC |
Ghadames, Líbia |
Temperatura alcança 55ºC |
Qeensland, Austrália |
Temperaturas de até 68,9ºC |
Desert Lut, Irã |
Registrada temperatura acima de 70,7ºC |
História
recente do clima extremo nas áreas habitadas
Nunca
na história de mais de um século da observação do clima mundial tantos recordes
de calor de todos os tempos caíram por uma margem tão grande quanto na história
da onda de calor de final de junho de 2021 no Oeste da América do Norte. Um
desastre climático que levou a morte 808 pessoas no Oeste do Canadá e 229 no
noroeste dos EUA. Em Lytton, Columbia, no Canadá, os termômetros marcaram
impressionantes 49,6ºC.
Uma
onda de calor extremo deve castigar o sul da Europa nesse verão de 2023. Em muitos
lugares, as temperaturas devem ultrapassar a marca de 40ºC na Espanha, França, Grécia,
Croácia Turquia, com picos de até 48ºC em lugares como a Sicília, na Itália.
Um
estudo pela revista científica Nature Medicene apontou que cerca de 61 mil
pessoas morreram de calor na Europa durante o verão de 2022 no Hemisfério
Norte. Levando em conta a média de temperaturas globais, junho de 2023 ficou
0,53 ºC acima dos índices registrados entre 1991 e 2020 no mesmo período,
superando substancialmente o recorde de 2019
A
MetSul Meteorologia adverte que o nível de calor (El Niño 2023) para os
próximos dias em muitas áreas do território brasileiro atingirá patamar
extremamente perigoso à saúde e à vida com elevado risco para a população
vulnerável, como enfermos e idosos.
Em
2023, os meses julho, agosto, setembro e outubro, foram marcados por extremo
calor em grande parte do Brasil e eventos de onda de calor, reflexo dos
impactos do fenômeno El Niño o aquecimento acima da média das águas do Oceano
Pacífico Equatorial), que tende a favorecer o aumento da temperatura em várias
regiões do planeta. Também o aumento da temperatura global da superfície
terrestre e dos oceanos muito contribuiu para esses eventos levarem a esse
extremo.
Vários
estudos apontam aumento da intensidade, duração e frequência de ondas de calor
no Brasil e no mundo.
https://ipiauonline.com.br/onze-capitais-batem-recorde-de-calor-ate-o-fim-de-semana/
O Brasil será atingido por uma onda de calor histórica pelo terceiro mês seguido coma marcas extremas de temperatura em vários estados e uma alta probabilidade de quebras de recordes históricos. Mesmo em cidades habituadas a calor muito intenso, com marcas 10ºC a 15ºC acima da climatologia histórica em algumas tardes.
O
calor mais extremo, inicialmente atinge áreas do Centro-Oeste (MT e MS). Até
sexta-feira, 09/11, o calor mais intenso concentra-se no Centro Oeste e no
interior de SP, mas a partir do fim de semana a massa de ar quente se amplia e
as máximas muito altas passam a alcançar mais áreas.
A
partir de sábado, 11/11, as máximas vão passar dos 40ºC em várias cidades do
interior de SP e podem alcançar até 37ºC na cidade de SP, o mesmo ocorrendo em
Belo Horizonte.
A
onda de calor já está nos seus estágios iniciais e tende a ganhar força durante
os próximos dia. Ar extremamente quente cobria o Centro e o Norte da Argentina,
com marcas extremas em diversas províncias. As máximas no país vizinho
atingiram a 46ºC em Rivadávia, 44,9ºC em Santiago del Estero (SMN).
Também
a Bolívia registrou calor extremo (08/11) onde a maior temperatura em estações
oficiais do país alcançou 44,7ºC em Villamontes.
O
Paraguai observou marcas extremas de calor em Pozo Colorado, com 44ºC.
Período
de duração - Normalmente, ondas de calor duram entre quatro e sete dias,
mas esta onda (08/11) durará até dez dias ou mais em diversas cidades, podendo
completar até duas semanas em alguns locais.
El
Niño – é um fenômeno natural que ocorre periodicamente. Pesquisas sugerem
que as mudanças climáticas podem influenciar a intensidade e frequência dos
seus eventos. O aumento das temperaturas globais pode interagir com os padrões
climáticos e oceânicos, potencialmente amplificando seus efeitos. Originado
pelo aquecimento anormal das águas do oceano Pacífico, tem efeitos climáticos
globais que afetam diretamente a circulação atmosférica e marítima.
Efeitos
do El Niño no clima – manifesta-se em diferentes regiões do mundo com
chuvas intensas e inundações em áreas normalmente secas, secas e estiagens em
áreas normalmente úmidas, aumento de atividades de furacões no Pacífico Leste e
redução de pesca, devido às mudanças na circulação oceânica.
Agricultura
– em algumas regiões o aumento das chuvas pode levar a inundações que
prejudicam as colheitas; em outras, a seca pode reduzir a disponibilidade de
água para a irrigação, afetando a oferta da produção de alimentos. Prevenção:
implementar estratégias antes que os eventos extremos possam acontecer nas
regiões, como o correto preparo de solo com técnicas que evitem a erosão, manutenção
dos canais de drenagem, assessoria nas variedades de ciclo intermediário, maior
atenção no controle de doenças e distribuição parcelada da fertilização quanto
possível.
Quando
começa o efeito El Niño no Brasil – geralmente começa a ser sentido a
partir dos meses mais quentes do ano, entre dezembro e março. Essa é a época
que os impactos das mudanças nos padrões climáticos, como chuvas irregulares e
temperaturas extremas, tendem a se manifestar de forma mais evidente em
diferentes partes do país. Pode causar chuvas torrenciais na região Sul, secas
severas nas regiões Norte e Nordeste. Essas flutuações climáticas têm impacto
direto na agricultura, no abastecimento de água e nos ecossistemas locais
Impacto
do evento El Niño 2023
Norte |
Redução de chuvas na
região amazônica, favorecendo a formação de algumas estiagens e
intensificando a proliferação de queimadas |
Nordeste |
No litoral, aumento da intensidade e
frequência das chuvas, no interior se espera temperatura acima da média das
regiões semiárida |
Centro-Oeste |
Mudanças no padrão de chuvas, encurtando
sua frequência. Maior risco de ocorrência de alternância entre chuvas fortes
e veranicos prolongados. É recomendável esperar uma sequência de várias
chuvas para iniciar o plantio. |
Sudeste |
O regime de chuvas vai ter mudanças no
padrão, reduzindo sua frequência e intensidade. Alta probabilidade de
alternância entre chuvas fortes e veranicos mais prolongados que a média dos
anos anteriores. |
Sul |
Aumento da frequência e intensificação de
chuvas torrenciais, acima das médias históricas entre os meses de agosto e
outubro. |
Onda
de calor e óbitos
Normalmente,
o calor no Brasil é percebido como um evento normal no clima e até celebrado,
mas o país não mantém estatísticas sobre a mortalidade relacionada a alta
temperatura. O calor é um causador silencioso de mortes, diferente do que
ocorre com desastres pela chuva. O calor extremo é muito mais mortal do que
outros desastres naturais, matando em média mais do que o dobro de pessoas por
ano do que furacões e tornados combinados (Serviço Meteorológico Nacional dos
Estados Unidos).
As
mudanças climáticas e crescente urbanização estão aumentando rapidamente a
exposição humana a temperaturas ambientes extremas, mas poucos estudos
examinaram a temperatura e a mortalidade na América Latina.
Proteção
do calor extremo, sugestão Mayo Clinic)
1. beber
grande quantidade de líquidos, para manter uma temperatura corporal normal; 2. usar
roupas folgadas e leves, para permitir que o corpo esfrie adequadamente; 3. proteger-se
das queimaduras solares, usando chapéu de abas largas e óculos de sol e um
protetor solar de amplo espectro; 4. ficar
em carro estacionado sob o sol (a temperatura dentro do carro pode subir mais
de 10ºC em apenas 10 minutos); 5. agendar exercícios físicos ou trabalho físico
para os períodos menos quentes do dia.
Riscos
relacionados ao calor: câimbras, exaustão, insolação, náusea e vômito.
Concluindo
Estamos
frente a um desastre climático natural pontual? ou esse tipo de evento terá
alguma constância, como em outras partes do mundo. Agências meteorológicas
afirmam que esse fenômeno irá perdurar até o outono de 2024.
Que
tipo de contribuição o ser humano tem prestado para alcançar esse resultado tão
alardeado da mudança climática?
Qual
a participação dos brasileiros nesse processo da mudança climática? Somos os
inocentes úteis para serem incriminados pelas transformações globais do século
XXI?
Por Edson Silva
13/11/2023
Fontes de consulta
https://planetacampo.com.br/el-nino-o-que-e-como-forma-aquecimento-global/