Mestre em Ciências da Saúde, UnB; Auditor ISO 14.000; Auditor CONAMA 306; Pesquisador Saúde Pública

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Desde muito cedo despertei o interesse para entender o sentido de “Gigante pela própria natureza” inscrito em nosso belo Hino Nacional Brasileiro. No meu pequeno mundo isso tinha formato de um sonho. Sempre acreditei que o trabalho produziria um Futuro que espelha essa grandeza. Entretanto, não poderíamos esperar “Deitado eternamente em berço esplendido”. Então, me debrucei sobre os livros e outros informes. A história da expansão territorial do Brasil ainda tem sido pouco pesquisada por nossa historiografia, apesar da importância estratégica e atual que reveste a questão. O potencial dos seis Biomas do Brasil nos credencia a produzir alimento para parte significativa dos 195 países do globo. Certo que temos problemas maiúsculos na seara da saúde de nosso povo, saúde primária, saúde regionais, saúde provenientes de epidemias e pandemia novo coronavírus. Nada que planejamentos estratégicos, planos de governo e planos de estado, com boa vontade e união de governantes não possam resolver.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2022

Hidrovias e portos fluviais – importante modal de transportes ainda pouco explorado no Brasil

 O transporte das riquezas brasileiras - Portos do Arco Norte e Portos do Arco Sul

O foco da exportação nacional tem historicamente concentrado sua atenção nos portos litorâneos do centro-sul do Brasil. Quero aqui destacar o conceito, portos do Arco Sul e Arco Norte, salientando o menos conhecido, porém de mais evidente crescimento no quesito exportação de grãos do cerrado brasileiro, o mais novo celeiro de alimento global.

Enfatizo nesse texto as hidrovias e sistemas portuários, muito utilizados em países que priorizam o menor custo-benefício para sua produção e o custo de manutenção de suas vias de transporte. O Brasil-interior recebeu atenção da EMBRAPA, encontrou o espírito empreendedor dos investidores no agronegócio. Espera agora a ação governamental para pavimentar a infraestrutura hidroviária/ferroviária/rodoviária. O Brasil e o brasileiro querem fazer chegar sua produção ao mercado interno e internacional a preços mais competitivos e justos.

Com dimensões continentais, uma larga extensão Norte-Sul e Leste-Oeste, o Brasil necessita uma ampla rede articulada que ligue os diversos pontos do território nacional propiciando melhor deslocamento de pessoas e mercadorias.

Para também ampliar os processos de importação e exportação, é fundamental oferecer condições de transporte que favoreçam tanto o meio agrário quanto o meio industrial para exercer suas funções sociais. A principal estratégia de governo, especialmente a partir de JK foi priorizar a estruturação do sistema rodoviário em detrimento do estímulo aos modais ferroviário e hidroviário.

A extensa malha rodoviária implantada nesse país continental hoje tem um custo de manutenção mais elevados que os demais meios, além de um maior gasto com combustíveis e veículos. A qualidade das estradas/rodovias é ruim e não conseguem atender o ritmo crescente de nossa produção de agronegócios e industrial.

Hidrovias no Brasil

O transporte aquaviário engloba os modais marítimo, fluvial e lacustre. A navegação interior contempla os rios, lagos, canais, lagoas, baías, angras, enseadas e áreas marítimas consideradas abrigadas.

O transporte hidroviário é o que possui a menor representatividade e participação nos sistemas de deslocamento nacional, apesar do grande potencial que o país possui para esse modal. Nossa rede hidroviária é muito ampla e muitos rios são navegáveis sem sequer exigir grandes empreendimentos. É certo que, os rios de planície, mais facilmente navegáveis encontram-se em áreas afastadas dos grandes centros econômicos. É correto afirmar também que, os rios de planalto, que são mais acidentados, exigem mais obras de correção para facilitar o transporte. No entanto, são a médio e longo prazo mais viáveis para o sistema de transportes no Brasil.

Transporte hidroviário Interior - THI

A utilização dos rios como vias de transporte estão a muito na história da humanidade, aproveitando as correntes naturais dos rios. No início do século VI a construção do Grande Canal artificial da China, considerado o primeiro canal para a navegação fluvial. Com uma extensão de 2.500 km, foi concluído no século XIV. No século X, a China já via no conceito da eclusa uma solução para transformações e uma oportunidade de viabilizar a navegação nos rios.

O período compreendido entre as duas revoluções Industriais ficou marcado pela limitação do transporte hidroviário interior assentado no sistema de canais e do transporte de longa distância. Nessa época, principalmente na Europa, as ferrovias tornaram-se concorrentes à navegação pelos canais, constituindo um novo modal a impulsionar o desenvolvimento dos países europeus.

THI no Brasil

No Brasil, quando os portugueses chegaram construíram base de apoio na costa e projetaram a ocupação em direção ao interior do País, demandando maior utilização do THI. Apesar de não possuírem todos os trechos navegáveis, os rios brasileiros, principalmente os amazônicos, são volumosos e, por isso, eram considerados como as vias de menor custo de manutenção.

Com o aumento da produção no interior da região Sudeste, houve a necessidade de expedições exploratórias identificarem meios mais adequados de comunicação entre MG, RJ, BA e ES. A vila de Cuiabá/MT, foi o ponto de partida para o conhecimento dos rios Madeira, Pará e Tapajós, em direção ao norte, como dos rios Cuiabá, Paraná e Tiete, em direção a São Paulo.

Com o objetivo de administrar essa imensidão hidroviária, foi criada a Divisão Hidrográfica Nacional, instituída pelo Conselho Nacional de Recursos Hídricos, que estabeleceu doze Regiões Hidrográficas no Brasil: a Amazônica, do Paraná, do Paraguai, do Uruguai, do Tocantins-Araguaia, do São Francisco, do Parnaíba, as do Atlântico Nordeste Ocidental, Nordeste Oriental, Leste Sul e Sudeste.

Além de o País, principalmente a região Norte, apresentar características geográficas que favorecem o transporte aquaviário, este é apontado como o mais barato e o menos poluente, comparado aos modais ferroviário e rodoviário. É também indicado para mover grandes volumes a grandes distâncias.

Obs: a região Hidrográfica Amazônica ocupa 45% do território Nacional (3,8 milhões de quilômetros quadrados, ANTAQ, 2013), abrangendo os estados do Acre, Amazonas, Rondônia, Roraima, Amapá, Pará e Mato Grosso, e conta com rios de grande abundância de água, como o Amazonas, Solimões, Madeira e Negro.

Portos do Brasil

https://www.researchgate.net/figure/Figura-4-Corredores-logisticos-de-exportacao-do-Brasil-com-enfase-no-Mato-Grosso-Fonte_fig1_326719477

Segundo a ANTAQ, há 175 instalações portuárias de carga no Brasil. Desses, 76 portos estão localizados no interior do Brasil, fora da costa litorânea, que se servem das bacias hidrográficas. O PIB do Brasil, em 2020, foi de US$ 1,444 trilhões (IBGE), dos quais 25% foram oriundos do comércio internacional, portanto, passando pelos nossos sistemas portuários.

 

Porto

Localização

Movimento de carga

Principal produto

exportação

Arco

1

Terminal de Ponta da Madeira (Itaqui)

São Luiz/MA

182.361 milhões de toneladas

Minério de ferro

Norte

2

Porto de Santos

Santos/SP

113.279 milhões de toneladas

Contêiners de variadas cargas

Sul

3

Porto de Tubarão

Vitória/ES

64.139 milhões de toneladas

Minério de ferro

Sul

4

Porto de Angra dos Reis

Angra dos Reis/RJ

64 milhões de toneladas

Petróleo e derivados

Sul

5

Terminal aquaviário de São Sebastião

São Sebastião/SP

54.469 milhões de toneladas

Petróleo e derivados

Sul

 Fonte: Anuário ANTAQ, 2021

Portos Arco Norte – transporte de grãos

O Arco Norte compreende eixos de transporte que levam a portos das regiões Norte e Nordeste situados acima do paralelo 16º S. As instalações portuárias compreendem os portos de Porto Velho (RO); Portos do rio Madeira, Manaus/Itacoatiara (AM); Itaituba/Muritituba (PA); Santarém (PA); Barcarena (PA); Santana (AP); Itaqui (MA); Salvador (BA); Pecém (CE) e Suape (PE).

Estudo realizado pela Confederação de Agricultura e Pecuária (CNA), as exportações de soja e milho pelos portos do Arco Norte totalizaram 42,3 milhões de toneladas em 2020, um aumento de 487,5% em relação a 2009. Evidencia-se assim a mudança de eixo de escoamento da safra do Centro-Oeste, que anteriormente seguia, em sua maior parte, pelos portos de Santos e Paranaguá. A meta do Governo Federal é atingir um volume de exportação de grãos, no Arco Norte, da ordem de 60 milhões de toneladas/ano a partir de 2025

A movimentação de cargas (2020) do Arco Norte passa a responder por 50% das exportações de milho e soja, principalmente para a Ásia e a Europa, de maneira que há uma urgência para promover a integração dos modais hidroviário, ferroviário e rodoviário, a fim de fomentar o conceito de multimodalidade e o equilíbrio da matriz de transporte brasileira. Nesse contexto, o Transporte Hidroviário Interior apresenta-se como um modal estratégico e de grande potencialidade.

Os principais produtos movimentados pelas hidrovias da região Amazônica são o minério de ferro, a soja, o milho, o ferro-gusa, e os produtos de exploração florestal. A agência Nacional de Transportes Aquaviário – ANTAQ, estimou para 2030, uma movimentação de 220 milhões de toneladas para a região, o que vai demandar para os órgãos responsáveis priorizar ações e investimentos que propiciem uma ampliação dos trechos navegáveis e uma navegação mais segura.

Hidrovia do Madeira

Esse importante via fluvial atravessa três (3) municípios no Estado de Rondônia e oito (8) municípios no Estado do Amazonas. Formado pela confluência dos rios Beni e Mamoré estende-se por cerca de 1.425 quilômetros até a foz no rio Amazonas, próximo a Itacoatiara. Navegável por uma extensão de 1.086 km, tem largura que varia de 440 metros a 10 Km. Permite navegação de grandes comboios, com até 18.000 toneladas, mesmo durante as estiagens. De fevereiro a maio, as condições de navegação são boas.

A hidrovia garante uma conexão vantajosa entre a região Centro-Oeste e os mercados europeu, norte-americano e asiático. Além de sua importância para o desenvolvimento regional, é o principal meio de escoamento da produção de grãos (soja e milho) proveniente das plantações do Centro-Oeste. Os grãos chegam a P. Velho depois de um percurso de 800 Km pela rodovia 364 e seguem em comboios integrados até o terminal hidroviário de Itacoatiara/AM, ou no Porto de Santarém, no rio Tapajós, onde a carga é transferida para navios de longo curso.

Segundo a ANTAQ, foram transportadas, em 2019, pela hidrovia do Madeira, cerca de 7.016 milhões de toneladas de grãos de origem vegetal, entre os grãos do complexo soja (4.327 milhões de toneladas), e cereais (2.688 milhões de toneladas).

Hidrovia do Teles-Pires Tapajós

A bacia do Tapajós está localizada em meio aos estados de Mato Grosso, Pará, Amazonas e Rondônia. Importante rota para a exportação de produtos agrícolas provenientes da região Centro-Oeste, seguindo para instalações portuárias de Santarém, podendo seguir adiante pela hidrovia do Amazonas até Barcarena/PA ou Santana/AP, onde são embarcados em navios de longo curso com destino ao exterior.

A hidrovia tem uma área navegável de 662 km, distribuídas em três trechos, intercalados por corredeiras, cachoeiras e afloramentos rochosos. Sofrendo devidas intervenções (barragens, derrocamentos e eclusas) permitirão transitar 1.043 km, desde sua foz em Santarém/PA até a região Cachoeira Rasteira/MT.

Os comboios permitidos no Tapajós têm 210 metros de comprimento e 32 metros de boca, com 3 metros de calado e 900 toneladas de carga. Já no Teles-Pires, a largura dos comboios é de 21,34 metros, com comprimento de 210 metros e 3 metros de calado. Os principais portos são o de Santarém (margem direita do rio Tapajós) e o de Itaituba.

Concluindo: os portos fluviais do Arco Norte, que no final do século XIX e início do XX, tiveram atuação marcante na economia do Brasil, com a comodities borracha, recebe novo destaque global pelo marcante crescimento de embarque de grãos para o mercado internacional. Uma ampla rede articulada rodovia/ferrovia/hidrovia será parte integrante do desenvolvimento dessa nova fronteira agrícola. O Transporte Hidroviário Interior cada vez mais fará parte de nossa realidade, em especial na nossa Amazônia, onde veremos uma crescente participação de produção do agronegócio em nosso Bioma Cerrado.

Por Edson Silva, 14 de dezembro de 2022.

Fonte

https://mundoeducacao.uol.com.br/geografia/transportes-no-brasil.htm

https://ambientes.ambientebrasil.com.br/agua/recursos_hidricos/hidrovias_no_brasil.html

https://www.marinha.mil.br/egn/sites/www.marinha.mil.br.egn/files/035%20CPEM2021_TESEFINAL_VELASQUEZ.pdf

https://brasil61.com/n/movimentacao-portuaria-no-arco-norte-atinge-50-da-producao-de-milho-e-soja-em-2020-pind212645

https://titaniacomex.com.br/portos-do-brasil-quais-os-principais/

2 comentários:

  1. Leitura com muito riqueza de conhecimento e pesquisa.

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    1. Obrigado pela participação e leitura. É um belo incentivo ao nosso trabalho

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